terça-feira, 29 de outubro de 2013

PESQUISADORES DA UFRN ARTICULAM CRIAÇÃO DE CENTROS DE ESTUDOS SOBRE DESASTRES


Por Luciano Galvão







Estiagem
na região semiárida é estudada pelo Grupo de Pesquisa Dinâmicas
Ambientais, Riscos e Ordenamento Territorial (GEORISCO) da UFRN





“Nenhuma ciência sozinha é competente para tratar de algo tão
complexo”. É ao fenômeno dos desastres que se refere, sem hesitar, o
professor Pitágoras Bindé, docente do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Isolados, os
saberes não fazem nada para resolver o problema”, assegura.

Cientes
da questão, pesquisadores da Universidade querem propor a criação do
Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED), projeto que
pretende reunir cientistas de diversas áreas do conhecimento para
desenvolver investigações sobre a temática na UFRN, assim como oferecer
suporte técnico às instituições públicas que atuam em situações de
catástrofes, como a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e o Atendimento
Móvel de Urgência (SAMU).

Coordenador da iniciativa e professor
do Departamento de Geografia, Lutiane Almeida explica que o projeto tem
sido conversado com a Reitoria e as defesas civis Estadual e Nacional. A
ideia é estabelecer um convênio de cooperação entre a Universidade e os
serviços de emergência. O acordo formal deve ser firmado durante o 1º
Seminário Multidisciplinar sobre Desastres, a ser realizado nos dias 4 e
5 de novembro deste ano.

Desde 2011, Lutiane coordena na UFRN o
Grupo de Pesquisa Dinâmicas Ambientais, Riscos e Ordenamento Territorial
(GEORISCO), no qual são desenvolvidos estudos que examinam as relações
entre a transformação do ambiente e as fragilidades sociais no Rio
Grande do Norte. O mapeamento das regiões vulneráveis de Natal e a
proposta de instalação de um sistema de alerta de risco na cidade são
exemplos de análises conduzidas dentro do Grupo.

As pesquisas se
dispõem a avaliar perigos para comunidades, apontar onde há ocorrência
dos fenômenos e relacioná-los com fatores sociais e naturais. “Os
primeiros resultados de um de nossos estudos indicam que há coincidência
entre os desastres e áreas com falta de serviços urbanos”, relata
Lutiane.

Interdisciplinaridade

No Rio
Grande do Norte são registrados variados tipos de riscos naturais:
afogamentos nas praias do litoral, deslizamento de barreiras,
escorregamento de dunas, terremotos na região da Baixa Verde, inundações
no Vale do Assu e a estiagem na região semiárida são exemplos. Há
também perigos provocados pela ação humana, como os decorrentes do
trânsito e das grandes aglomerações de pessoas, sobretudo na capital.

A
necessidade de interação entre os saberes para abordar tema tão amplo é
consenso entre os professores. “Quando a gente fala de risco, estamos
falando de interdisciplinaridade”, afirma Ermínio Fernandes, do
Departamento de Geografia. “As áreas têm que sentar juntas, entender o
fenômeno e buscar possíveis soluções. Não tem como ser diferente”,
sustenta o docente, que também colabora com o GEORISCO.

Ermínio
explica que sua contribuição para as pesquisas sobre catástrofes é
entender o fenômeno do ponto de vista técnico, ao examinar as
características físicas do solo. “Estudamos questões como ‘que
parâmetros uma duna tem que ter para começar a escorregar’, ‘qual a
carga que ela suporta de peso’ ou ‘quanto tempo leva para deslocar-se’”,
exemplifica.

Segundo o professor, a Geografia tem participação
relevante no estudo dos perigos por observar os mecanismos da natureza
e, ao mesmo tempo, oferecer respostas às fragilidades sociais nas
comunidades. “Nossa disciplina é um leque de contribuições porque tem um
grande arcabouço teórico-metodológico de pesquisa nesses temas. Agora,
claro que a gente não é suficiente”, ressalva.





Para Ermínio, a Universidade deve sempre manter contato com entidades
públicas que atuem em situações de desastres. “Elas precisam saber
quais são as áreas vulneráveis e quais os riscos que cada uma apresenta.
Alguns lugares carecem de estudos mais detalhados, tanto do ponto de
vista socioambiental quanto geomorfológico, para dar base ao trabalho
dos órgãos responsáveis”, diz.










Wallacy Medeiros




Coordenador da iniciativa e professor do Departamento de Geografia,
Lutiane Almeida explica que o projeto tem sido conversado com a Reitoria
e as defesas civis Estadual e Nacional





Serviços de emergência

Ricardo Matos, do
Departamento de Engenharia de Produção, aponta para outro aspecto do
problema. O professor explica que embora haja alguma interlocução entre
os sistemas públicos de resposta a emergências, as atividades poderiam
ser mais bem organizadas.

“Os serviços de emergência no País
precisam de um trabalho de aglutinação, um trabalho coordenado”,
defende. “É importante definir quais os limites de atuação de cada um e
de que maneira eles podem atuar juntos, inclusive fazendo treinamentos
de ação mútua para cenários determinados”, afirma Ricardo.

De
acordo com o pesquisador, desastres são fenômenos complexos, que
precisam de uma abordagem conjunta para serem compreendidos. “É algo que
não cabe em uma única disciplina e que diz respeito a todo cidadão. Por
isso nossa proposta é reunir pessoas interessadas em desencadear
investigações sobre o assunto”, pontua.

O docente entende que é
necessário promover uma “maturidade” nas organizações de maneira que
elas possam dar respostas eficientes às situações críticas. Formas de
trabalhar em equipe, ferramentas que facilitem o raciocínio dos atores
envolvidos e processos que diminuam a fadiga e os erros são exemplos de
elementos a serem estudados.

Ricardo lembra que a colaboração da
Universidade não deve resumir-se à pesquisa. “Esse Centro de Estudos
terá também o papel de desenvolver atividades de extensão junto à
sociedade e formar pessoas para atuar na área de desastres”, diz.

Pessoas

Pitágoras
Bindé, do Departamento de Psicologia, explica que sua área preocupa-se
com o componente humano das catástrofes, ao ocupar-se de vítimas e
co-autores dos acontecimentos extremos, além de pessoas que atuem
diretamente com os riscos.

O professor esclarece que a
contribuição da Psicologia acontece em três momentos: na prevenção dos
desastres, no combate ao problema e na reparação de possíveis danos
psicológicos ocasionados pelos eventos.
Como exemplo de trabalho
desenvolvido, Pitágoras cita a avaliação de planos de evacuação, quando
pesquisadores confrontam os perfis de comportamentos previstos nos
documentos com relatos e gravações de casos reais.

Segundo o
docente, projetos de emergência normalmente presumem que as pessoas irão
agir de um modo determinado nos momentos de perigo, mas nem sempre
esses comportamentos se confirmarão. “Se você pegar qualquer plano
desses, a primeira diretriz é ‘não entre em pânico’. Mas o que a gente
verifica, na prática, é exatamente o contrário”, relata.

Sobre o
CEPED, Pitágoras vê na iniciativa a adoção, pela UFRN, de um
compromisso institucional. “Queremos que o esforço deixe de ser dos
professores individualmente e a Universidade, como instituição, passe a
desenvolver estudos e a disponibilizar pessoas de todas as áreas para
ajudar nas atividades dos órgãos públicos”, ressalta o professor.





Rayssa Aline/ Gazeta da serra











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